sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Malaico

Você já deve ter se sentido um malaico nessa vida, é quando você percebe o quanto existe de sentido em tudo o que esta por perto de você se liquefaz por completo.
Você se senta um parque qualquer de uma cidade qualquer e vê uma criança brincando em um brinquedo cinza, adolescentes jogando bola em um cercado de ferro cinza, os prédios de todos os lados são cinza. Algo não natural, só cimento e pedra, sem verde, sem vida, uma grama tão devastada pela poluição que chega a ter tons de cinza na suas folhas, uma árvore tão morta que seu casco reflete a cor cinza do ambiente. Nessa hora que começa a subir um nó na garganta e você grita! Nem sabe o que gritou, mas grita! Ninguém escuta, foi um grito da sua alma, do seu coração se sentindo retirado do seu habitat natural, se sentindo exótico.
Você toma um gole de seu chimarrão, a erva, naquele momento, lhe parece mais viva do que a folha da rosa na sua frente. Você respira e se da conta que esta fazendo alguma coisa estranha, não para você mesmo, já que se sente natural fazendo aquilo, mas pelas centenas de pessoas que te olham no momento. O olhar delas é pesado, cruel. Você reage com naturalidade, beija a sua garota, levanta as suas roupas, se sente meio enjoado, com uma náusea no estomago, uma vergonha na face, um sentimento estranho. Se sentindo estranho.
Pensa em sair correndo dali, mas ainda tem cede, fome, uma fome...

Um desejo...

Uma imprudência...

Apenas desta vez, você pensa... Se da conta que não foi só daquela vez.

Você já fez isso em outros lugares, mais diferentes ainda, com menos olhos famintos por perto, entretanto o gosto disso o faz se sentir em casa. O gosto disso te viciou, como uma anfetamina qualquer, uma cocaína, uma maconha, o mesmo prazer sem nenhum desprazer, remorso ou dano à saúde, pelo contrário, um bem maior a saúde faz.

Você grita, de novo, e ninguém escuta, sim é a sua alma novamente. “O que está fazendo?” Seu coração fala, “Você sempre desejou isso, continue, não seja louco!” E você faz. Todos as suas vozes desaparecem, todos os olhos já lhe devoraram, todos as substâncias já foram absorvidas, e nesse clímax que a doce libertação ocorre. Você passa a se sentir maluco...
Exótico... Estranho... Maluco....
Assim que você se sente um Malaico.

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